Ordem e Progresso

Ordem e Progresso

Foto-performance
2016
Impressão Fine Art sobre papel Hahnemuhle 60 x 90 cm
Concepção/performer: Ludmilla Ramalho
Artista convidado: Dário Peralta (In memoriam)
Realizada no 1º Encontro Latino Americano de Nova Lima em resposta ao Golpe Político ocorrido em 2016 no Brasil.


Descrição
Mulher nua sobre um cavalo, pintada de dourado, com os olhos vendados por uma bandeira do Brasil e sendo puxada, através de uma corda que a enforca, por um homem trajado de maneira opulenta.


Sobre o trabalho
Inspirada no golpe de Estado que destituiu a primeira mulher a presidir o Brasil, "Ordem e progresso" produz uma imagem que conecta o impeachment de 2016 a outros processos históricos do país. A mulher estrangulada por um homem trajando smoking, em referência ao capitalismo patriarcal, serve de alegoria à destituição da presidente democraticamente eleita. Além disso, a nudez do seu corpo coberto pelo pó dourado e cegado pela bandeira do Brasil que carrega, por sua vez, o ditame positivista "ordem e progresso", remete-nos, respectivamente, à vulnerabilidade de um corpo feminino nu, ao ouro e aos símbolos da pátria enquanto diretrizes ofuscantes como, por exemplo e finalmente, o ufanismo. Sem mencionar, ainda, o fato de a mulher não ter as rédeas do seu cavalo.

Com isto somos levados também ao embrião do capitalismo ocidental, a saber, a extração, pela empreitada colonial, do ouro em Minas Gerais, Estado cuja "Inconfidência" se tornou símbolo da República brasileira e que até hoje possui a mineração como principal atividade econômica. Neste sentido, o corpo feminino retoma sua relação com a imagem arquetípica da Mãe-terra (ligados pela fertilidade, entre outros) que, neste contexto, devido a nudez e à submissão à figura masculina, está vulnerável à espoliação - como na mineração - ao estrangulamento e à cegueira causada pelo nacionalismo positivista. A República, com isto, torna-se uma mera reprodução da brutalidade colonial, cuja lógica, por sua vez, é reproduzida na misoginia do golpe de 2016. Sobre o cavalo, ainda, a mulher evoca as amazonas, tribo mitológica da antiguidade que vivia sob a ginecocracia, regime político no qual a sociedade é governada por mulheres guerreiras com seus cavalos que, aqui, tornam-se impotentes frente ao patriarcado local e internacional.



Foto: Ciro Thielmann
Texto: João Guilherme Dayrell


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